Procure alguma coisa, mas não garanto que vá achar...

22 de mai. de 2015

O Estigma do Meste Malvado

Eu sempre gostei de mestrar D&D. Todos os aspectos para mim são muito divertidos, desde a preparação, desenhar a dungeon, escolher os monstros, até o ato em si: apresentar um mundo novo de perigos e tesouros para os personagens.
Minha "approach" praticamente sempre foi o que se pode chamar de Old School. Minhas dungeons não feitas especialmente para os personagens, eu nunca penso apenas no nível deles ao preparar os monstros e armadilhas, muitos Save vs. Die por todo lado, etc. No entanto eu tenho um coração mole e acabo dando uma colher de chá para os jogadores as vezes.

Só que mesmo com o coração mole minhas aventuras costumam ser letais, perigos rondam em cada esquina e a morte pode estar a uma rolagem de dados de distância. Isso tudo contribui para uma reputação: a fama de ser um "mestre malvado", "pilantra", "sacana", etc.
Eu não me importo muito com esses adjetivos, mas eles tem um efeito interessante na psicologia dos jogadores e na maneira como eles agem diante dos coisas que acham na Dungeon.


Esse efeito é muito interessante. Pode ser descrito como um cautela excessiva, uma paranóia, um medo incontrolável de que atrás de toda porta existe um monstro muito poderoso ou uma armadilha letal... Uma analise superficial pode levar a conclusão de que esse medo é útil, desejável até, afinal contribui para criar uma atmosfera de tensão e definitivamente deixa os jogadores mais cautelosos. Contudo existem "efeitos colaterais".

Eu presenciei esses "efeitos colaterais" pessoalmente em minhas últimas sessões. O medo dos jogadores afasta os personagens de tudo: eles acham baú: "não abra que tem armadilha", acham uma porta fechada "não abra que deve ter um monstro muito forte atrás", acham uma fonte de água :"não chega perto que tem armadilha", e assim por diante.
Você pode até pensar :"ah, eles estão sendo espertos e cautelosos", e é isso que eles pensam, porque eu tenho a fama de ser um mestre que põe armadilhas em tudo. Mas não é bem assim...
O problema que essa atitude causa é que os jogadores não se arriscam, eles evitam qualquer coisa incerta e, devido ao medo paranóico de armadilhas, evitam até mesmo algumas coisas mundanas, e isso acaba afastando eles de coisas úteis e tesouros. Por exemplo: o baú estava cheio de ouro, a sala tinha um tesouro desprotegido, e a fonte? Era uma água mágica de cura.

Em outras palavras: a minha reputação afasta os jogadores de coisas colocadas na dungeon para ajudar eles. Na cabeça deles um baú não pode estar lá só para garantir um pouquinho de tesouro a mais para o grupo, uma fonte de água não pode ser útil, "Ela tem que ser mortal porque o Max já fez isso antes. Lembra daquela fonte de mudança de sexo?".
Enfim, mesmo que eu tente mudar minha imagem um pouco e coloque coisas boas para os jogadores na tentativa de balancear os perigos e armadilhas, minha reputação vai afastar os jogadores delas.
E esse é o grande problema: é MINHA reputação que afasta eles. São os JOGADORES que tem medo. As vezes de coisas que os personagens não teriam.

Essa discrepância entre os medos dos personagens e os medos dos jogadores foi o que me fez pensar a respeito disso tudo. Eu ainda não achei um solução, um equilíbrio, um meio de mostrar para os jogadores que algumas das coisas que reluzem são ouro, sem ter que amolecer demais minhas dungeons.
Por enquanto a atitude que mostrou melhores resultados foi conversar com o pessoal, e explicar para eles que eles passaram reto por alguns tesouros.
Outro método é introduzir NPCs que conhecem a dungeon melhor e contam para os jogadores o que eles perderam(eu fiz isso com a fonte de cura: depois da aventura eles foram consultar um mago local que mostrou um mapa para eles que indicava a fonte que eles acharam como sendo uma fonte mágica de cura).

Bem, por hoje é só, até a próxima postagem com mais divagações rpgisticas.








15 de mai. de 2015

Tirando o Pó dos Dados

Acho que já é a segunda vez que eu tento voltar a escrever no blog. Da primeira tentei mudar o foco, escrever filmes e cosias assim, deu certo por um tempo, mas a motivação pra escrever foi indo embora de novo.
Depois eu até voltei a jogar Rpg(1 sessão de AD&D com certas ressalvas) e isso me animou a escrever cosias rpgisticas. No entanto o fato do grupo não ter levado a campanha pra frente matou minha animação de novo e voltei a estagnar.
Agora, mais uma vez, uma sessão de D&D com a galera e eu fico com tesão por teclado de novo.
Revi minhas house rules, escrevi umas novas, pus no papel um monte de fluff pro meu cenário e finalmente comecei a povoar a versão X.Y da minha megadungeon(ela já teve tantas versões que eu nem sei mais se é 2.0, 1.5, 3.4, 5.raiz de Pi...)
E com essa empolgação vem a vontade de escrever no blog, compartilhar minhas experiências, minhas histórias, minhas regras, o crunch, o fluff, a parada toda.
Mas ao mesmo tempo vem a duvida, será que a coisa vai pra frente? Vamos torcer que sim.


Enfim, pra começar vou contar sobre algumas coisas que rolaram nessa sessão.
A preparação começou uma semana antes, quando meus amigos vieram a mim, procurando alguém pra mestrar D&D. Mal sabiam o lhes esperava!
Quando o sábado finalmente chegou eu peguei meus livros, minhas anotações, dados e até as miniaturas, e parti para a casa do anfitrião da nossa aventura.
Nem todo mundo tinha chegado mas decidimos começar a criar os personagens. A parte mais demorada e cansativa.
Eu decidi testar uma coisa nova: rolar 3d6 para os atributos, EM ORDEM! Isso mesmo, sem frescura pra eles.
Aqui é importante fazer um adendo, o grupo é um misto de NooBs completos, alguns jogadores com um pouco de experiência e dois que até já jogaram comigo. Então resolvi dar uma colher de chá: eles tinham de rolar 3d6, mas podiam escolher a ordem para distribui-los.
Ainda sim os resultados foram fantásticos: o primeiro a jogar já teve um 4 e um 17! Abrangendo todo o espectro de possibilidades. Outro membro do nosso grupo teve a façanha de conseguir DOIS QUATROS, mas nada supera o ladino do grupo, que conseguiu um os melhores atributos(o menor foi um sete), inclusive um 18 na última jogada.
Eu gostei bastante desse método para rolar os atributos. Não é tão cruel quanto 3d6 em ordem, mas torna as rolagens mais emocionantes, porque a possibilidade de acabar com uma pontuação baixa num atributo é muito maior do que rolando 4d6 e tirando o menor. E fico feliz em dizer que o Mimimi foi praticamente inexistente, pelo menos nesse quesito.
Outro comentário na questão dos atributos: eu decidi não usar os modificadores do D&D da Grow, nem do AD&D 2ª Edição. Em vez disso eu fiz minhas próprias tabelas, baseadas mais no Original D&D e nos livros do chamado Basic D&D(Holmes, Mentzer, etc), usando uma ou outra coisa do AD&D(como a porcentagem para sobreviver a teleportes e ressurreições baseadas na constituição).
Ainda no tópico de House Rules: eu criei regras para movimento e carga do zero, já que todos os sistemas de carga que já vi no D&;D até hoje são bem obtusos, não que o meu tenha ficado melhor(mais sobre isso depois).

"Bora mestrar!!"

Agora, vou fazer um breve resumo dos personagens que formaram o grupo nessa primeira sessão:
Começamos com Taqef, um Guerreiro Humano Leal e Bom. Inicialmente o jogador queria fazer um paladino, mas digamos que a rolagem dos atributos não contribuiu. Só para vocês terem uma ideia os atributos dele são: Força 10, Destreza 17, Inteligência 6, Sabedoria 4, Constituição 14, Carisma 9.
Enfim, pode-se perceber que ele até tinha um 17 para por em carisma e ser um paladino, mas acabou por fazer a escolha prudente de deixar esse número alto em destreza, garantindo um bom bônus na Classe de Armadura.

A seguir temos Dragsa, uma Magic User Meio-Elfa Neutra e Má. Sim, neutra e Má... Eu tive alguns problemas com isso, mas acabei deixando, só pra ver no que dá quando os interesses dessa personagem ficarem contra os interesses do resto do grupo... Os atributos aqui ficaram mais bem distribuídos, com nada menor do que 9 e nada maior do que 13.

Hank, outro Meio-Elfo, dessa vez um Druida Neutro e Bom. Esse foi o "sortudo" que teve dois Quatros e um Cinco. Devidamente alocados em Força, Destreza e Inteligência. Mas com 13 de Sabedoria e Constituição e 15 de Carisma e eu acho que ele consegue compensar pelos outros atributos baixos.

Aqui é um bom ponto para comentar outra House Rule que eu estou usando, retirada de um retro-clone de OD&D chamado Seven Voyages of Zylarthen. Essa regra é sobre o atributo da Inteligência e diz que ele não representa os conhecimentos do personagens, e sim seu nível de erudição: livros lidos, línguas conhecidas, etc. Os conhecimentos do personagem são os conhecimentos do jogador.
Embora isso possa parecer ir contra alguns dos princípios básicos do Roleplay, eu diria que vejo um uso bem prático e excelente para essa regra: impedir jogadores de fazerem um teste de inteligência para ver se o personagem dele sabe de uma coisa que ele não sabe. Como, por exemplo, a maneira correta de matar um troll ou um cubo gelatinoso, ou outro monstro imune a alguma forma de dano.


Continuando com os personagens temos Nanã(eta nome tosco, mas, tudo bem...). Outra Magic-User, dessa vez Elfa e Neutra. Nada de especial aqui, além de um 17, colocado em destreza para garantir uma classe de armadura melhor. Vale a pena observar que essa personagem teve uma das melhores rolagens de atributos, com apenas um 4 e todos outros acima de 9.

Temos também o "Homem Sem Nome", um ladino meio-elfo(estão percebendo um padrão?)ainda anônimo. O jogador não conseguiu bolar um nome para ele e eu incentivei a continuar sem mesmo, para criar uma figura meio mítica estilo Clint Eastwood mesmo. Esse foi o sortudo que teve um 18(e nenhum 4, o menor atributo foi um 7).
O grupo teve ainda mais uma adição posterior, um clérigo elfo de nível 6. Basicamente um NPC entregue a um jogador que apareceu de última hora. E acabou sendo bem útil para o grupo, diga-se de passagem.

Acho que vocês já devem ter notado uma coisa, mas eu vou comentar mesmo assim: o grupo só tem UM humano! E todos os outros são Elfos ou Meio-Elfos. Eu nem comentei nada. Por mim eu teria pelo menos um anão no grupo, ou quem sabe um halfling... Mas se os jogadores são contra a diversidade racial, quem sou eu pra reclamar?
Só tenham certeza que eu vou arranjar um jeito de virar isso contra eles...

Imagine um grupo inteiro assim...

Bem, acho que por enquanto vou encerrar aqui.
Uma nova sessão já foi marcada para amanhã, então vou deixar os detalhes da aventura para uma postagem futura, com a possibilidade de eu já colocar tudo num post só.




Testes de Luz

Devido a um retorno inesperado ao D&D(mais sobre isso aqui), eu estive vagando pela blogosfera em busca de inspiração e bons textos sobre o D&D Old School para ler e me preparar para voltar a mestrar.
Foi ai que eu me deparei com esse blog, chamado Last Gap.
Mais especificamente essa postagem, que falava sobre House Rules, e, entra essas regras caseiras achei uma muito interessante que decidi traduzir e compartilhar aqui na Toca de Kigan.
Trata-se de uma regra para "abstrair as tochas": em vez de ficar marcando exatamente quanto tempo uma tocha pode queimar antes de apagar, você joga um dado para determinar se seu personagem consegue manter ela acessa ou não. Eu achei a ideia genial.
Com esse sistema simples você anula a necessidade de muitas anotações e trabalho, tanto por parte dos jogadores quanto do mestre. Enfim, se você quiser ver a regra original é só clicar aqui, a seguir vem a minha pequena adaptação:

Testes de Luz
Testes de luz servem para determinar se um personagem consegue manter uma fonte de luz funcionando em perfeito estado. Uma falha significa que a luz apagou. Os testes são feitos da seguinte maneira:
-Jogue o dado indicado, um resultado maior que a metade do resultado máximo(por exemplo: maior que 3 num d6), indica um sucesso, a tocha fica acessa, um resultado igual ou menor uma falha.
-Em caso de falha o próximo teste será feito com um dado menor, até se chegar no d4. Uma falha no d4 indica que a tocha apagou.
-Um resultado igual a 1 sempre resulta numa tocha apagada.
-O mestre pode determinar de quanto em quanto tempo o teste é necessário e escolher modificadores para situações adversas, como umidade e vento.
-O dado é determinado de acordo com o instrumento usado para iluminação:
Lanterna/Lampião - d20
Vela - d10
Tocha - d8
Tocha Improvisada(galho, feixe de palha, pedaço de pergaminho, etc) - d4








Enfim, por hoje é só pessoal. Esperem novas postagens em breve!